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E a tecnologia metendo os pés pelas mãos
Rodolfo de Souza
05/05/2023 | 11:08
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Seri/DGABC


Houve um tempo em que telefone era luxo, privilégio de poucas famílias. Tanto é que, quando, numa emergência, necessitava-se falar com um parente distante, apelava-se logo para o vizinho, qualquer coisa mais abastado, que, cortesmente, cedia por um breve instante o aparelho tão cobiçado na época. 

A chamada interurbana era, então, solicitada a uma telefonista, a quem era informado o número de alguém da vizinhança do tal parente, que gentilmente aceitava chamá-lo para atender. A ligação levava horas até ser completada, e a conversa se dava aos gritos, porque era difícil entender o que se falava na outra extremidade da linha. Isso quando não caía a chamada, claro. Velhos tempos que não vão assim tão longe.

De lá para cá, no entanto, e este cronista é testemunha, a tecnologia deu um salto a ponto de causar espanto em qualquer pessoa que ultrapassou a linha da meia idade e que, portanto, assistiu à sua rápida evolução. Exemplo disso é a matéria que li há alguns dias. Um tanto assustadora, ela trazia uma revelação que as pessoas só esperavam receber décadas à frente do seu tempo. Mesmo porque, ninguém esperava que tal aventura, tão cedo, deixasse as telas do cinema, onde tudo é possível. A questão diz respeito aos avanços nas pesquisas com inteligência artificial. 

Cientistas e financiadores decidiram até parar com o desenvolvimento da coisa por algum tempo, assustados que estão pelos rumos que tomaram os testes. Pelo que ouvi, já tem máquina experimentando o fascínio da descoberta, o que, por certo, levará o cérebro artificial, em futuro não muito distante, a se rebelar contra o seu criador. É a inteligência virtual que aprende e, instantaneamente, compartilha com seus iguais o que sabe, em tempo real. Isso eu ouvi numa entrevista do sujeito que primeiro começou a desenvolver os trabalhos. 

Nossa! Por décadas, pensou-se que o fim dos tempos se daria pela bomba atômica, artefato experimentado em duas cidades ao final da segunda guerra e, que tem feito cócegas nas mãos de líderes daqui e de acolá desde então. Mas agora, se observarmos atentamente os resultados de tantos avanços, chegaremos à conclusão de que o ser pensante, que ora estende seus domínios sobre o bem e o mal, não demora, estará sob o jugo da máquina.

Hoje, a velocidade com que se divulga qualquer coisa na internet já assusta. E, pelo andar da carruagem, é possível concluir que o mal, nesse espaço, vence de braçadas o bem. Refiro-me ao uso indiscriminado da rede para espalhar mentiras, sentimento de ódio, incentivo à violência... Ou seja, a rede aparentemente perdeu o seu papel de auxiliar no trabalho, no estudo, na pesquisa, para dar lugar ao que de mais satânico pode existir no coração do ser humano sem escrúpulos. 

Pensando bem, acho melhor deixar rolar a corrida para jogar nas mãos das máquinas toda a inteligência de que fora dotado o ser humano, e muito mais. Talvez seja uma forma de as gerações vindouras aprenderem que o uso inadequado da tecnologia é que um dia lançou o ser humano na boca do dragão.




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