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População reclama de lotação e falta de médicos na UPA Baeta

Segundo relatos, profissionais demoram para chamar pacientes mesmo quando consultórios estão vazios; Prefeitura não se pronuncia

Beatriz Mirelle
07/05/2024 | 08:15
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FOTO: Celso Luiz/DGABC


As denúncias sobre o atendimento da saúde de São Bernardo deixaram de ser pontuais para se tornarem rotineiras. Na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Baeta Neves, as reclamações vão desde superlotação, alto tempo de espera para triagem, consulta primária e aplicação de medicamentos até ausência de médicos e falta de atendimento prioritário. Enquanto os moradores da cidade seguem apontando supostas situações de negligência e descaso, a Prefeitura opta por se manter em silêncio. 

A dona de casa Daniela Lima, 33, moradora da Vila Esperança, em São Bernardo, foi à UPA Baeta no domingo (5), às 10h30, e esperou por mais de cinco horas para tomar remédio para dor. “Estava com dor nas costas, falta de apetite e vomitando. Passei muito mal e, enquanto aguardava pela medicação, falei para a enfermeira que não estava bem e ela ignorou. Não adiantou e ainda esperei mais algumas horas para receber soro.” 

Ontem, ela retornou à UPA Baeta Neves, às 12h30, para saber os resultados de exames de sangue e urina e foi liberada apenas às 17h. “Só tinha um profissional atendendo. O paciente entrava, ficava cinco minutos, saia e o médico demorava 15 minutos para chamar outra pessoa.” 

Daniela também afirma que os profissionais chamam apenas um paciente por vez para ir à sala de medicação. “Ao invés de colocar vários para tomar soro, limitam o número de atendimentos. Passei todo esse tempo aqui e agora volto para casa com dor, sem saber o que eu tenho. O médico disse que não deu nada nos exames e mandou eu comprar buscopan. Amanhã (hoje) vou tentar ir à UBS (Unidade Básica de Saúde) São Pedro saber o que está acontecendo comigo. É desgastante.” 

Moradora do Jardim Petrone, em São Bernardo, a dona de casa Adriana Soares, 51, observou a mesma demora que Daniela. “O paciente sai do consultório e tem vezes que o médico demora até 20 minutos para chamar o próximo. Nesse período, a fila de espera voltava a encher.” 

Adriana foi à UPA Baeta ontem como acompanhante. “Trouxe minha mãe, de 73 anos, que acabou de se recuperar de um AVC e pneumonia que teve em abril. Ela está com tosse e dor no peito. Os médicos tinham falado para ‘correr para o hospital’ caso ela apresentasse algum outro problema de saúde. Cheguei aqui às 14h e estou esperando há mais de três horas. A ficha dela está como verde (casos leves). Uma idosa não pode esperar tanto tempo assim. Entendo que tem muita gente doente, mas os médicos não estão chamando os pacientes.” 

Segundo relatos ao Diário, um homem, que aguardava ser atendido, precisou ser socorrido às pressas após ter convulsão na UPA Baeta. 

“Ele tinha falado que chegou às 8h, passou com a médica às 11h, tomou medicação e aguardava pela consulta de retorno. Demorou tanto para ele ser atendido que teve uma convulsão, caiu no chão, começou a se bater e teve que ir para a emergência. Todo mundo fica desesperado ao ver que o atendimento não está funcionando e as pessoas passam mal pelos corredores”, detalha a auxiliar administrativa Maria Eduarda Ferreira, 24 anos, do Baeta Neves. 

Diabética e hipertensa, ela ficou das 11h às 17h no posto de saúde, com formigamento no braço e dor no peito. “Passei tanto tempo aqui que os sintomas foram diminuindo. Fiz o eletrocardiograma às 13h e só consegui ser atendida às 16h45. É um absurdo passar por isso.” 

Questionada sobre o atendimento e fila de espera na UPA Baeta Neves, a Prefeitura de São Bernardo não respondeu o Diário até o fechamento desta edição. 

‘Secretário precisa explicar esse caos’, aponta vereador

O vereador Julinho Fuzari (PSC) reforça a necessidade que o secretário de Pasta, Geraldo Reple Sobrinho, esclareça os motivos pelos quais a saúde pública de São Bernardo tem sido alvo frequente de denúncias. Reple tem até o dia 15 de maio para comparecer à Câmara e responder aos questionamentos dos parlamentares sobre a série de denúncias de negligência e erros médicos que teriam causado as mortes de duas gestantes e quatro bebês no Hospital da Mulher – os episódios foram revelados pelo Diário. 

“As reclamações a respeito das filas de atendimento nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) são recorrentes. Temos pessoas esperando por oito horas ou mais para ter a primeira consulta ou receber medicação. Isso estimula a nossa cobrança para convocação do secretário de saúde para que ele possa explicar esse caos que se instala na saúde pública do municipio. Outro questionamento que temos que fazer é com relação à decisão de não tornar o Hospital de Urgência um serviço porta aberta. Hoje, a população tem uma unidade hospitalar que custou milhões aos cofres públicos e não é utilizada conforme o objetivo que foi construida, com pronto atendimento. Isso iria desafogar as UPAs”, afirma Fuzari

Ao Diário, o vereador diz, ainda, que Reple precisa explicar como a cidade que investe quase R$ 2 bilhões no setor da saúde pode apresentar esse tipo de atendimento à população. “Estão economizando? Só vamos encontrar respostas quando o secretário realmente aparecer.”




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