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Mãe denuncia suposta negligência no Hospital da Mulher de São Bernardo

Paciente alega que bebê nasceu morto por demora em realizar o parto; caso aconteceu em 2023 e está sob investigação da Polícia Civil

Thainá Lana
18/04/2024 | 08:05
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Celso Luiz/DGABC


“Uma mãe nunca está preparada para perder seu filho. Não consigo entender por que isso aconteceu comigo”. O desabafo é da auxiliar de dentista Priscila Tabata Benedito, 35 anos, que denuncia suposta negligência no Hospital da Mulher de São Bernardo. O caso aconteceu em julho de 2023. Quando a paciente deu à luz, o bebê já estava morto. Ela diz que o óbito ocorreu por demora na realização do parto.

A são-bernardense estava de 39 semanas quando deu entrada na unidade hospitalar com fortes dores e um pouco de sangramento, em 25 de julho. Segundo a paciente, foram feitos exames de toque para verificação da dilatação do colo do útero e de cardiotocografia para avaliação do bem-estar fetal e aplicação de medicamento para dor e soro.

A gestante teria sido informada que estava apenas com dois centímetros de dilatação (o indicado para parto normal é de 10 cm) e que estaria com contrações prematuras. “Meu pré-natal foi classificado como gestação de alto risco porque tenho mioma uterino. Durante toda gravidez não foi constatada nenhuma deformidade ou problema com a criança. No início tive infecção urinária e fiquei internada por dez dias para tratamento”, explicou.

Após sete horas no hospital, Priscila foi liberada para retornar para casa, porém continuou sentindo dores e voltou à unidade de saúde às 4h do dia 26. A equipe médica repetiu os procedimentos realizados no dia anterior e informou que os resultados eram similares, sem anormalidades e com apenas dois centímetros de dilatação.

“Eles queriam me liberar novamente, mesmo eu sentindo muita dor desde o dia anterior. Em todo momento pedi que fosse realizada uma cesárea. Alguma coisa estava errada, a dor não passava, mas ninguém me ouviu ou respeitou meu desejo. Ficaram insistindo que tinha de ser parto normal e por causa disso ainda não estava na hora”, contou a paciente.

Priscila disse que enquanto realizava os exames houve troca de plantão, e quando a nova médica assumiu o caso solicitou a internação e a cesária imediatamente, mesmo já tendo sido liberada pela equipe anterior – na hora ela registrava cinco centímetros de dilatação. Por volta das 9h20 o nenê nasceu sem vida, e os médicos tentaram reanimá-lo por cerca de 40 minutos.

“Fiquei todo esse tempo sem ninguém me falar nada, só escutava os médicos falando para descer adrenalina, para fazer aspiração, e não ouvia nada de choro. Depois de 40 minutos de angústia, me disseram que ele tinha nascido morta. Ele nasceu toda verde, tinha aspirado o mecônio (primeiras fezes do bebê), entrou em sofrimento fetal. Ninguém do hospital veio conversar comigo, me explicar o que tinha acontecido”, lamentou Priscila.

Joana, esse era o nome escolhido para a recém-nascida. “Estou com depressão, saí do meu emprego e não consigo entender ainda o que aconteceu. Sou mãe de um menino de 11 anos, mas sempre sonhei em ter uma filha. Ela era muito esperada por toda família, celebrei a sua chegada desde o primeiro teste”, disse, emocionada, a mãe, que ainda guarda todo enxoval da filha.

INVESTIGAÇÃO

Um mês após o ocorrido, representantes da Ouvidoria do hospital, da Fundação ABC e das chefias de enfermagem e obstetrícia chamaram Priscila para conversar sobre o ocorrido. “Não souberam me explicar nada. Questionei sobre as alterações nos exames, sobre a demora para fazer o parto, e não souberam falar nada. Só pediram desculpas e informaram que iriam fazer uma verificação interna para avaliar o procedimento, e caso tivesse alguma irregularidade, me chamariam. Até agora nada”.

Na mesma reunião, os representantes informaram que não era possível a verificação da cor do líquido amniótico antes da cirurgia e que por essa razão não tinha como prever o desfecho.

A família abriu um BO (Boletim de Ocorrência) sobre o caso, e a morte foi registrada como suspeita – na época foi realizado exame de corpo delito no IML (Instituto Médico Legal). Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), o caso está sendo investigado pelo 6° DP (Distrito Policial) de São Bernardo, por meio de inquérito policial, e a mãe deverá ser ouvida ainda hoje.

A paciente está reunindo os laudos médicos, histórico de exames e do pré-natal para acionar a Justiça contra o Hospital da Mulher de São Bernardo. Questionada sobre a causa da morte e o porquê da equipe não realizar a cesárea na primeira vez que a gestante deu entrada na unidade, a Prefeitura não retornou até o fechamento desta edição.

OUTROS CASOS

Com esse caso, o Hospital da Mulher de São Bernardo acumula três denúncias de possíveis erros médicos envolvendo gestantes. A primeira ocorrência foi divulgada no domingo (14) pelo Diário, quando uma compressa foi deixada dentro do corpo da jovem Raissa Falosi Santos, 20 anos, após realizar trabalho de parto e colocação de DIU (Dispositivo Intrauterino) na unidade. Já Arthur Henry Coimbra denuncia a morte suspeita de sua esposa, que ocorreu após o parto da filha no local, há cerca de um mês.

Por causa do aumento das queixas nesta semana, vereadores de São Bernardo assinaram requerimento que pede a convocação do secretário de Saúde, Geraldo Reple Sobrinho, para prestar informações sobre os fatos publicados pelo Diário nos últimos dias relacionados aos casos de negligência no Hospital da Mulher.

Embora assinado por todos os parlamentares, de acordo com informação disponibilizada no portal do Legislativo, o documento não foi votado em plenário na sessão de ontem.

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