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Penha Fumagalli exonera secretário acusado de corrupção

Empresário de Rio Grande alega ter sido obrigado a pagar propina ao ex-titular de Obras Kéber Avelino e ao vereador Marcos Costa

Wilson Guardia
29/03/2024 | 09:14
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FOTOS: Reprodução, Wilson Guardia/DGABC e Reprodução/Facebook


A prefeita de Rio Grande da Serra, Penha Fumagalli (PSD) exonerou ontem o secretário de Obras Kléber Avelino de Oliveira. Ele é acusado por um empreiteiro de cobrar propina para liberar pagamentos de obras. Ainda segundo a denúncia, Oliveira agia a mando do vereador Marcos Costa, o Tico (União Brasil).

“Diante da gravidade das acusações foi iniciado um rigoroso processo de investigação. Como parte inicial deste procedimento o Secretário de Obras e Planejamento foi exonerado com o objetivo de assegurar uma fiscalização minuciosa e imparcial. Está em curso uma sindicância dedicada a apurar e, se necessário, aplicar as devidas responsabilizações”, esclareceu a chefe do Executivo por meio de nota.

O empresário Abias Rodrigues de Assis afirma que o esquema ocorre há um ano e que já teria pago cerca de R$ 400 mil em propina. “Pagava 10% do valor da nota, agora me cobram 12%. Estou cansado de conluio”, falou. Indagado sobre quem o obrigava a pagar, o empreiteiro acusa um vereador. “O Tico (Marcos Costa) é dono da secretaria de Obras e manda o secretário (Kléber) segurar (não pagar) minhas notas para me forçar a entrar no esquema”, aponta.

Abias também foi questionado sobre o motivo de ter entrado no esquema. “Quando comecei a prestar serviço estava capitalizado, tinha recursos para tocar as obras. Para me obrigar a entrar no esquema, meus pagamentos foram retidos, até que chegou um momento que precisei ceder e pagar para receber. Fui forçado a isso.”

O empreiteiro garante ter apresentado provas ao MP (Ministério Público) que sustentam suas acusações. “Pen-drive com documentos, gravações e mensagens de WhatsApp, entre outras informações foram entregues”, garantiu Abias.

O Diário teve acesso à parte dos documentos. Neles, as transações bancárias revelam pagamentos via PIX para empresas e para Jackeline da Cruz Pereira Costa, que, segundo Abias, é esposa do vereador Marcos Costa. Em uma conversa de WhatsApp que o Diário teve acesso, o parlamentar pede para o empreiteiro fazer “10 redondo”, e na sequência o comprovante de pagamento é enviado pelo empresário com o valor de R$ 10 mil.

Abias, por meio de sua empresa, a Viaprecisa Terraplenagem, transferiu valores variados para contas indicadas pelo vereador Tico. Entre os beneficiários, outra empreiteira, a R de Moraes Construtora e Incorporadora. “Entre os diversos depósitos, fiz um de R$ 4 mil para esta empresa, do Kléber, secretário de Obras de Rio Grande da Serra”, declarou.

A empresa citada, fundada em 2007, fica na cidade de São Vicente, na Baixada Santista. O quadro societário foi consultado pelo Diário junto à Receita Federal do Brasil, mas o órgão não reportou dados sobre quem são os sócios.

Abias ainda denuncia ter um aditivo contratual de R$ 243 mil a receber da Prefeitura e. desse total, R$ 100 mil seriam para pagar propina ao vereador Tico e ao secretário Kléber Alvelino Oliveira.

As denúncias foram feitas por Abias na sede de sua empresa, onde recebeu a reportagem do Diário. Com o olho esquerdo ferido, curativo na face e dores nas costelas, o empresário disse ter sido agredido por Marcelo Ricardo, o Cowboy (leia abaixo) por conta de valor não quitado junto a um de seus fornecedores. “Devo porque não recebo da Prefeitura. Não tenho como pagar.”

Por conta dessa situação, Abias se sente ameaçado e teme ser executado. 

TIGO NEGA ACUSAÇÃO E AGRESSOR SE EXPLICA

O vereador Marcos Costa, o Tico, procurado pelo Diário, negou existir qualquer esquema de corrupção e confirma que sua esposa, Jackeline da Cruz Pereira Costa, recebeu muito mais do que R$ 10 mil de Abias Rodrigues de Assis. “Minha esposa vendeu um carro para ele, um Fiat Strada preto no valor de R$ 45 mil. O valor foi parcelado”, justificou. O parlamentar também foi indagado sobre o motivo de indicar contas para o empreiteiro fazer depósitos. “Estou tranquilo em responder sobre isso. Vendi para o Abias um gerador de R$ 27 mil. Como tenho um imóvel em obras ele faz os pagamentos para meus fornecedores.”

Tico rechaçou a denúncia de que cobrou R$ 100 mil de Abias de um aditivo contratual da obra da rodoviária. “Sou vereador e trânsito em todas as secretarias. As notas não pagas partiram de uma decisão técnica da Secretaria de Obras, já que a empresa de Abias não executou os serviços.”

Kléber Avelino foi procurado e não se manifestou.

AGRESSÃO

Abias, agredido, anteontem por Marcelo Ricardo, o Cowboy, afirmou inicialmente que a ação teria sido a mando do ex-secretário e do vereador por não ter pago propina.

Procurado pelo Diário, Cowboy confirmou a agressão e negou ter sido contratado. “Não tenho nada com política. Ele (Abias) tem dívida comigo e não me paga”, declarou à reportagem em uma cafeteria de Rio Grande da Serra.

Abias, confrontado, mudou a versão e confirmou dívida de R$ 50 mil.

AKIRA DO POVO VAI PEDIR CASSAÇÃO

O vereador de Rio Grande Marcelo Akira, o Akira do Povo (Podemos), opositor da prefeita Penha Fumagalli (PSD), recebeu a denúncia sobre suposto esquema de corrupção e deu encaminhamentos iniciais. Acionou o Ministério Público e registrou BO (Boletim de Ocorrência) na delegacia da cidade. O parlamentar garantiu que na próxima quarta-feira (3) vai protocolar pedido de cassação da prefeita Penha Fumagalli e do vereador Marcos Costa, o Tico. “É impossível ela (Penha) não saber o que acontece bem embaixo do gabinete dela.”

Indagado sobre a possibilidade do pedido de cassação não passar no Legislativo, tendo em vista a maioria dos vereadores da base governista, Akira diz que os vereadores devem ouvir a população. “O povo está saturado de tanta coisa errada”, disse.

Em caso de derrota na Câmara, Akira espera que o Ministério Público, após análise documental, dê os encaminhamentos para destituir a prefeita do poder e garanta a perda do mandato do vereador.




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