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Desdém, obesidade e diabetes
Antonio Carlos do Nascimento
20/11/2023 | 07:00
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De tempos em tempos ocorre uma explosão midiática para anunciar que a prevalência de obesidade cresce assustadoramente, ocasiões que são listadas todos os desfechos decorrentes do ganho exagerado de peso e são apontados culpados e suspeitos para o fenômeno, provocando ampla comoção popular, que logo é acomodada e esquecida.

Em 2006 fomos sacudidos pelo anúncio público que 11,8% da população adulta brasileira estava obesa, o impacto destes e outros dados deflagraria amplo movimento de orientação comportamental de nossa população, com destaques para o incentivo à prática de exercícios físicos, consumo de dieta saudável e desaprovação ao tabagismo, ingesta alcóolica habitual e uso de drogas ilícitas. 

Se de um lado, pouco ou nada de resolutividade terapêutica tenha sido efetivamente consensualizado, o assunto ganhava pauta em expressivos meios de comunicação. 

O tema voltaria à cena com muita força em 2011, menos pelo conhecimento de que 16% da população adulta brasileira estava obesa e mais porque surgia naquele ano a Liraglutida (Victosa, Saxenda), fármaco pertencente a classe medicamentosa que prometia revolucionar (e revolucionou) o tratamento do paciente obeso em todo o mundo. 

Muito foi conquistado na ação difusa de orientação comportamental, com notória diminuição na demanda por bebidas açucaradas, aumento expressivo no consumo de vegetais e incremento não desprezível na prática de exercícios físicos. Mas, faz pouco que soubemos que o percentual de obesos em nossa população adulta está próximo de 25%, caminhando velozmente para em 2030 alcançar 30%.

No último 14 de novembro, Dia Mundial do Diabetes, divulgou-se com surpresa que 9,1% dos brasileiros são diabéticos, enquanto em 2006 este percentual era de 5,7%. Partindo do conhecimento que 90% dos diabéticos são do tipo 2 e que 80% destes resultam de transtornos metabólicos do excesso de gordura corporal, faz pensar que 9,1% seja patamar bastante subestimado para esta moléstia.

Enquanto pareça importar pouco que mais de dois terços dos óbitos por patologias cardíacas ocorram em portadores de diabetes e que a obesidade se encarregue de proporcionar aproximadamente 70% do universo total de diabéticos, as políticas públicas se arrastam morosamente para o real enfrentamento da obesidade com medicamentos e/ou cirurgia bariátrica.

Porém, vê-se que o desastre orçamentário da saúde pública e privada está diretamente relacionado ao desdém entregue ao manejo da população obesa, assim como, ao custo financeiro monumental dos modernos tratamentos de suas consequências, observadas neste artigo apenas pelo diabetes e enfermidades cardíacas. 

Se o senso popular habitualmente se acomoda com tragédias e desventuras, é inteligente que gestores de saúde não o façam!




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