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Fernando de Noronha: paraíso infernal
Rodermil Pizzo
24/07/2023 | 12:39
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Se existe um destino no Brasil que não pertence aos brasileiros, este se chama Fernando de Noronha.

Local de belezas naturais, praias paradisíacas e muito sol, gratuitamente ofertados pela natureza, somente lhe permite acesso se você for artista, milionário, youtuber com milhões de seguidores ou otário perdulário.

O custo de uma viagem para este destino se tonou algo tão assustador que beira a extorsão. O investimento para passar férias ou feriado no local se tornou um dos mais custosos entre os destinos nacionais, quiçá internacionais.

Quando digo investimento não estou me referindo somente às passagens aéreas e hospedagens, e sim a tudo que engloba uma viagem: refeições, passeios e compras.

Claramente com a intenção de elitizar e ganhar muito de poucos, os moradores, comerciantes e empresários da ilha transformaram Noronha em um local impossível de se conhecer.

Usando a técnica de senhores “feudais ou posseiros”, tomaram conta da ilha e se apoderaram, como propriedade particular, do que é público.

O famoso PF (prato feito), em qualquer lugar do Brasil, custa em média R$ 20; já, em Noronha, custa R$ 90.

Se quiser comer algo mais elaborado, ou cardápios gourmet, talvez lhe custe um rim ou parte da sua pele.

A hospedagem é outro caos à parte. As famosas casas dos pescadores, de qualidade mediana, têm custo de hotéis cinco estrelas e, no lugar de lençóis com milhares de fios e cardápio de travesseiros, você receberá uma cama de colchão raso e uma almofada, mais dura que os bancos dos veículos que circulam na ilha.

Locar um veículo simplório tem o mesmo custo de uma limousine em Miami.

Tudo em Noronha é monetizado no extremo.

Ainda que logre o dinheiro para suas férias, terá de conviver com moradores hostis, que tratam os turistas como invasores, restringem, criam dificuldades e somente aceitam sua presença na ilha se a todo momento você estiver gerando lucro, muito lucro.

Descansar em Noronha, sem que alguém lhe aborde e diga o que você não pode, é impossível. Na verdade, o turista pode tudo, desde que pague, e pague caro.

Com o mesmo valor de uma locação de cadeira de praia se pode comprar um terreno em Búzios.

Desde que o local se tornou paraíso e retiro de famosos globais, com suas pousadas inclusivas, a ilha passou a sofre de “megalomania”.

Noronha hoje é o paraíso de poucos, explorados por poucos; todavia, devemos lembrar que pertence a muitos – ou melhor, a todos.

Eu estou tentado a criar a versão MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ) para invadirmos a ilha e desfrutarmos do que Deus nos deu e os capitães tomaram. Seria o MSVN (Movimento dos Sem Viagem para Noronha ).

Rodermil Pizzo é doutorando em Comunicação, mestre em Hospitalidade e colunista do Diário, da BandFMBrasil e do Diário Mineiro.




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