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O esforço tímido da reindustrialização
Sandro Maskio
29/05/2023 | 08:55
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Uma das estratégias no campo econômico defendidas pelo governo é estimular a indústria no País. O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), economista Aloísio Mercadante, é uma das principias vozes da equipe do governo a defender esta frente e colocá-la como uma das principais prioridades do BNDES. A proposta anunciada semana passada de incentivo ao setor automobilístico até pode ser interpretada como ação de estímulo ao setor industrial, mas está muito aquém de uma estratégia robusta e sustentável.

O estímulo à recuperação da atividade industrial faz parte de um movimento mundial, especialmente após os efeitos contracionistas da pandemia, que demonstrou os efeitos adversos da ampla concentração industrial na economia global. Efeitos estes não apenas às economias nacionais, como aos principais oligopólios de atuação mundial, que comandam as principais cadeias globais de valor. 

Há mais de 10 anos, a crise financeira de 2008 trouxe luzes sobre esta questão, sublinhada de forma mais enfática com a defesa do protecionismo pelo governo americano Donald Trump. Mais recentemente, após os efeitos mais críticos da pandemia e a desorganização provocada nas cadeias produtivas internacionalizadas, os pacotes de estímulo econômico de países como EUA, Japão e da União Europeia envolvem estratégias de reindustrialização e ampliação das competências competitivas.

Segundo os dados disponíveis da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), a participação da indústria no PIB global se eleva de 15,6% para 16,7% entre 1970 e 2020, calculados a partir dos valores reais das variáveis em dólar de 2015. Neste intervalo, contudo, apenas na Ásia a indústria registrou ascensão da participação da indústria na composição do PIB, de 15,1% para 23,2%.

Como consequência, a Ásia passou a responder por aproximadamente 54% da produção industrial mundial em 2020, frente aos 15% de 1970. Na Europa, a participação da indústria no globo diminuiu de cerca de 41 % para 20%. E nas Américas diminuiu de 38% para 22% da indústria mundial. África e Oceania assistiram a participação conjunta diminuir de 4,5% para 2,7%.

Segundo a UNCTAD, em valores reais, a indústria não perde espaço na composição do PIB mundial. A mensuração a partir de dados constantes, a preços em dólares de 2015, tem como objetivo reduzir as dispersões provocadas pela inflação nos diferentes países e as flutuações cambiais, já que os preços são calculados em dólares em paridade do poder de compra.

Esta realocação espacial da produção da indústria no mundo também se refletiu na economia nacional. A indústria brasileira registrou sua maior participação na indústria global em 1986, quando respondeu por 2,5% do total. Em 2020 a indústria brasileira representou só 1,5%. Na mesma comparação, a indústria na China assistiu a participação se ampliar de 2,4% para 26%. 

O desafio de estimular o processo de reindustrialização não é tarefa trivial. Requer, a princípio, um projeto de longo prazo. As experiências internacionais de outros países nas últimas décadas também demostram a importância de políticas regionais com foco produtivo.

Por enquanto, não parece que o governo federal tem trabalhado em um projeto com este porte. No campo regional, possivelmente o Estado de São Paulo, especialmente seu interior, apresente melhores condições estruturais para um projeto deste porte.




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