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China e as novas estratégias econômicas
Sandro Renato Maskio
24/04/2023 | 13:31
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 Em meio à trajetória de retomada nos anos recentes, um dos temas em voga na economia mundial são as estratégias de fomento à retomada da economia dos países após o impacto da desaceleração no pandêmico 2020. Parece inevitável a reorganização produtiva da economia mundial como uma das heranças da Covid-19. Entre as tendências, observa-se a retomada da importância da política industrial, cujos esforços mais intensos têm sido realizados pelos países desenvolvidos. 

A partir das décadas de 1980 e 1990, a estratégia de offshoring ganhou cada vez mais espaço, transferindo processos produtivos e serviços para outros países com objetivo principal de reduzir custos e melhorar a margem de lucro, marcando o movimento de internacionalização das cadeias de produção. Outra tendência que se observa, também puxada pelos países desenvolvidos, é o nearshorring, que envolve a ampliação da interrelação econômica e produtiva entre países próximos com vistas a reduzir a dependência externa, especialmente da Ásia. 

Nesta última semana, o governo chinês anunciou que deverá acelerar projetos para ampliar a capacidade de produção interna de minério de ferro e de reciclagem, com objetivo de reduzir a dependência de importação do mesmo, que atualmente supera 70% do consumo interno. Este anúncio ocorreu como resposta do governo chinês à elevação dos preços do minério de ferro no mercado internacional, qualificada como irracional e especulativa por Pequim. 

A própria China, que passou a concentrar a atividade industrial nas últimas décadas de internacionalização da produção, revelou estar preocupada com a dependência externa e a variação dos preços no mercado internacional. 

Distante da lógica liberal, a estratégia chinesa se utilizou de amplo instrumento intervencionista nas últimas décadas, no qual concentrou a produção industrial do mundo. Para além do reduzido custo interno de produção, a estratégia chinesa se apoiou na manutenção da moeda local fortemente desvalorizada, o que permitiu e ainda permite que as exportações realizadas a partir do seu território cheguem ao mercado internacional a preços reduzidos. Isso, não raras vezes, gerou contestações por parte de outros países devido às condições desleais de competição provocadas pela moeda chinesa desvalorizada. 

Valorização interna

Ao longo de sua trajetória, também se mostrou essencial na estratégia de Pequim a promoção do setor produtivo de capital nacional chinês e o desenvolvimento de competências tecnológicas, o que hoje se reflete na expansão das multinacionais chinesas e suas marcas. Isso sem contar a atração de empreendimentos multinacionais, que encontraram no país asiático excelente oportunidade para ampliar as margens de lucro, apesar das regras de transferência tecnológica às quais se submeteram.

O país que se tornou a segunda maior economia mundial, apoiado na estratégia de promover a produção local ancorada na exportação, se mostra agora preocupado com a dependência externa. Paralelamente à expansão chinesa, a grande maioria dos países do mundo ampliou a dependência externa, especialmente da Ásia. 

Os indícios recentes parecem dar pistas sobre algumas das mudanças vindouras na organização internacional da produção. Fomentar a produção local, reduzir a concentração produtiva no espaço internacional e diminuir o grau de dependência externa deverão ganhar espaço nas políticas de desenvolvimento econômico dos países. 




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