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Baixa formação de poupança na economia brasileira
Sandro Renato Maskio
17/04/2023 | 16:52
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A dinâmica da economia é fruto das interações sociais entre agentes econômicos e guarda dentro destas interações importantes correlações, bem como certa complexidade. Entre os principais temas debatidos na agenda econômica brasileira na atualidade estão a reforma tributária, o fomento à reindustrialização, o fortalecimento dos mecanismos de redistribuição de renda e a reestruturação da política habitacional. Alguns foram tema desta coluna. 

Entretanto,  pouco se debate sobre a formação de poupança no Brasil e sua importância para a dinâmica da economia. Entende-se por formação de poupança a parcela da renda gerada na economia não consumida. Isso não se confunde com volume de aplicações financeiras e tampouco com a aplicação denominada caderneta de poupança. Ao mesmo tempo, não impede que parcela da poupança realizada na economia seja direcionada para aplicações financeiras, inclusive para a caderneta de poupança. 

A formação de poupança na economia é responsável por gerar capacidade de financiamento às diferentes atividades econômicas. Seja financiamento dos investimentos produtivos, dos consumidores, do crédito à habitação, do governo etc.  Em 2022 a taxa de poupança foi de 15,9% do PIB. Significa que a cada R$ 100 de renda gerada na economia brasileira em 2022, R$ 15,9 se tornaram poupança. A princípio esta proporção parece ser significativa. 

No biênio 2020/2021, enquanto no Brasil a taxa de formação de poupança foi de 16% do PIB, na América Latina e América do Norte foi de aproximadamente 19%, segundo dados do Banco Mundial.  Esta proporção sobe para cerca de 25% na União Europeia. A taxa de formação média de poupança no mundo, no período, foi de 26,5% do PIB, puxada especialmente pelos 44% apresentados pela Ásia.  

Em outro recorte, enquanto na década de 1980 a formação de poupança foi de pouco mais de 21% do PIB no Brasil, nas décadas de 1990 e 2000 essa formação reduziu-se para cerca de 16,5% do PIB. Na década de 2010, caiu a 15,5% do Produto Interno Bruto.  

Baixa renda, baixa poupança

Os dados acima demonstram que tanto na comparação com outras regiões do mundo como na trajetória histórica do Brasil, há um humilde desempenho da economia brasileira na formação de poupança.  

A principal explicação decorre do fato de o Brasil ser um país com baixa renda per capita, e consecutivamente a capacidade de geração de poupança per capita também será pequena. Isso ajuda a explicar a diferença na comparação do Brasil com outras regiões e países. Como nas últimas quatro décadas a economia brasileira apresentou lento ritmo de crescimento econômico, e consequentemente baixa evolução da renda real per capita, a capacidade de formação de poupança foi duramente afetada.  

A deficiência na geração de poupança interna afeta mais intensamente os setores intensivos em capital, que em geral são setores com maior capacidade de geração de valor adicionado e de absorção e geração de tecnologia. São mais dependentes de fundos de financiamento a investimentos produtivos. 

Há ainda que se considerar que no Brasil o orçamento do Estado apresenta déficit nominal sequencial, tornando-o um grande concorrente na captação de poupança e em grande parte para financiar despesas correntes - entre estas, a maioria é a própria despesa com juros de financiamentos captados anteriormente. 

Além da estrutura oligopolista que caracteriza o sistema bancário brasileiro, a baixa disponibilidade de poupança para geração de financiamento contribui para a prática de juros elevados na ponta do mercado financeiro brasileiro.  

Melhorar a capacidade de formação de poupança passa inevitavelmente pela melhoria da distribuição de renda, pelo fomento ao crescimento econômico e geração de renda. Dada a escassez de poupança, é necessário também aprimorar a eficiência na utilização dos recursos para promoção dos itens apontados no parágrafo anterior.   

Este parece ser um tema ausente nas principais discussões relativas à realidade econômica brasileira e nem está listado na agenda econômica do governo federal. Ademais, esta questão não se resolve em curto ou médio prazo, e nem será fruto de um ajuste de autorregulação do mercado.  

Sandro Renato Maskio é professor de Economia e coordenador de Estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo.  




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