A taxa média de crescimento da economia brasileira nos últimos 40 anos foi de apenas 2,35% ao ano, acumulando pouco mais de 153% no período (1979-2019) anterior à pandemia de Covid-19. Nas quatro décadas anteriores, entre 1939 e 1979, a economia brasileira expandiu à taxa anual média de 6,75%, acumulando crescimento de mais de 1.200%. Embora sejam períodos históricos diferentes, com características próprias do processo de formação econômica, a dispersão do ritmo de crescimento chama atenção.

Como uma das consequências mais diretas, a renda per capita do cidadão brasileiro, calculada pela relação entre PIB e total da população, cresceu apenas 49,32% entre 1979 e 2019, ou média de 1% ao ano. Nas quatro décadas imediatamente anteriores (1939-1979), a renda per capita cresceu a um ritmo médio de 3,97% ao ano. A medição dos ganhos per capita não significa que a renda efetivamente recebida por cada cidadão, ou por cada família, tenha evoluído no mesmo ritmo que a renda média da sociedade. Certamente para algumas famílias e indivíduos a evolução foi muito mais acentuada, enquanto para outros houve o inverso, podendo mesmo terem perdido renda.

É fato que a expansão do PIB, traduzido na taxa de crescimento da economia, não é garantia de melhora na qualidade de vida para toda a sociedade, tanto pelas externalidades negativas geradas pelo modelo produtivo, quando pela dispersão provocada pelo mesmo modelo na distribuição de renda. Contudo, também é inegável que a expansão da geração de riqueza é que amplia as condições para melhoria da qualidade de vida. Seja via ampliação da renda real média por meio do mercado de trabalho, seja pela ampliação das bases de financiamento das políticas públicas voltadas a amenizar as dispersões provocadas pelo mercado.

27 anos para dobrar a renda
Feitas estas considerações, gostaria de provocar o leitor com uma pequena projeção para a renda per capita brasileira para as próximas décadas. Considerando inicialmente que a taxa média de crescimento da população brasileira seja de 5% ao ano nas próximas décadas e que a taxa média de crescimento do PIB seja de 3% ao ano, demoraremos pouco mais de 27 anos para dobrar a renda per capita brasileira.

Isso se considerarmos redução no ritmo de crescimento da população e aceleração na expansão da economia brasileira. A redução do crescimento populacional nas próximas décadas é uma realidade, haja vista a queda da população abaixo de 30 anos entre 2012 e 2021, segundo dados da PNAD. Entretanto, a ampliação da taxa de crescimento médio da economia brasileira se mostra mais distante. Isso porque, além dos movimentos cíclicos, a trajetória de longo prazo é largamente dependente de estratégias de desenvolvimento produtivo e melhoria da infraestrutura - dois itens que ficaram a desejar nas últimas décadas.

Os incautos gostam de afirmar que os esforços têm de ser concentrados no curto prazo e que o longo prazo está associado a variáveis que fogem à governança da política pública. Contudo, a história nos mostra a partir da experiência de diversos países, incluindo o Brasil, que são justamente as ações eficientes focadas no longo prazo que criam capacidade de resiliência à trajetória econômica das nações.

Há riscos consideráveis de não conseguirmos se demorarmos mais de 30 anos para dobrar o PIB per capita brasileiro, o que melhoraria as condições para financiamento de melhor qualidade de vida da população. A isso se deve somar a necessidade de alteração do processo produtivo para um modelo mais sustentável, ambientalmente menos agressivo e socialmente mais inclusivo.

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Metodista de São Paulo