Economia Titulo Desvendando a economia
Expectativas para o novo ano
Sandro Renato Maskio
02/01/2023 | 11:37
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Início de ano sempre renova as expectativas. É o momento em que realizamos novos planos e promessas, resgatamos os antigos que não frutificaram, reafirmamos compromissos. Em geral, há um crescimento exponencial das expectativas positivas. Afinal, ninguém deseja dar passos para trás.

No campo da economia, o desejo é que também consigamos trilhar um caminho que melhore a qualidade de vida dos brasileiros. Contudo, como em qualquer esfera da vida, na grande maioria dos casos,os desejos não são profecias autorrealizáveis, não se concretizam em curto espaço de tempo e não ocorrem sem boa dose de esforço e trabalho.

Após o pleito eleitoral, a troca de governo trará guinada na orientação das políticas públicas no campo da economia. O novo governo terá postura mais progressista, intervencionista, enquanto a gestão anterior defendia orientação mais liberal. Sobre esta mudança, nos últimos anos, as economias mais fortes do mundo têm adotado políticas progressistas, ativas. O objetivo é não apenas fomentar a atividade econômica após os efeitos mais severos da pandemia, mas também reorganizar a estrutura produtiva das respectivas economias, a exemplo de Estados Unidos, China e União Europeia.

Sem dúvida estas nações seguem o ditado, comprovado ao longo da história dos ciclos econômicos, de que ''na crise econômica não existe liberal, assim como na trincheira de guerra não existe ateu''.

Contudo, algumas ponderações devem ser realizadas. A primeira é que uma ação intervencionista só se mostra sustentável se o governo consegue realizá-la com respeito à sustentabilidade fiscal das contas públicas ao longo do tempo.

Aqui reside um grande desafio ao novo governo. Se de um lado a condição fiscal brasileira apresenta problemas estruturais, o País viu a condição das contas públicas se agravarem após os anos 2015/2016. Recentemente, as pequenas melhoras observadas se deram em função de cortes em investimentos, depreciação da carreira pública e não-recomposição do quadro de funcionários, que já se reflete na redução da capacidade de prestação de serviços públicos.

O equacionamento da atual condição das contas públicas, com as pressões para adoção de políticas intervencionistas mais ativas no campo social e econômico, será o grande desafio da nova gestão para 2023.

Incentivar a produção

A segunda ponderação refere-se à qualidade das ações de fomento à atividade econômica. Em um Brasil com ampla restrição de recursos, o espaço para erros ou apostas que se mostrem pouco eficiente é mínimo. Neste ponto, um dos pontos chave é a seleção dos setores a serem incentivados, devendo ser priorizados os que sejam capazes de movimentar cadeias de produção mais amplas. Isso tende a ampliar a eficácia da política pública.

Não menos importante, mas desprezado nas últimas décadas no Brasil, é a amaração destas ações com política regional de desenvolvimento produtivo. Isso porque, considerando as diferenças setoriais e as características locais, não se deve desconsiderar o impacto da economia de regionalização. Nas últimas décadas, especialmente em setores que geram maior valor adicionado e incorporam mais intensidade tecnológica, esta questão tem estado no centro das estratégias de desenvolvimento produtivo tecnológico nas economias mais avançadas.

No curto prazo, as pressões para melhoria da qualidade de vida das famílias mais vulneráveis também são imensas, haja vista o aumento do número das que não conseguem nem sanar a fome. Isso também pressionará o orçamento público federal e foi o principal mote do debate sobre a chamada PEC da transição.

Contudo, a trajetória demográfica brasileira também aponta para desafios econômicos que devem ser observados o quanto antes. O principal é a redução da taxa de natalidade e do número de jovens na sociedade brasileira ­o que deverá serefletir em significativa redução da entrada de jovens no mercado de trabalho nas próximas décadas. Se somarmos a isso a baixa qualidade do sistema de ensino no Brasil, não parece difícil projetar que a falta de mão de obra qualificada, de jovens talentos, será um grande entrave ao progresso da economia brasileira.

Apostar fortemente no sistema de ensino, e melhorar significativamente sua qualidade, é uma saída para amenizar este efeito. Mas não há mais tempo a esperar para iniciar este processo.

Por fim, não podemos deixar de observar que a inflação é um problema internacional hoje. A economia brasileira sofre de forma direta esta pressão global, agravada por pressões internas. Ou seja, manter a inflação em níveis amistosos continuará sendo outra provocação no campo da economia.

Alguns dos desafios queo novo governo deverá enfrentar estão colocados. Na década de 2010 a economia brasileira apresentou o pior desempenho da história registrada no Brasil. O mundo está buscando não só retomar a atividade econômica, como reorganizar-se produtivamente nesta década de 2020.

Será muito difícil o Brasil apresentar desempenho econômico na década de 2020 pior do que na década anterior. Entretanto, a eficácia da atuação do atual governo, que terminará no começo da segunda metade desta década, terá papel essencial nesta trajetória.

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Metodista de São Paulo




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