Os dados divulgados pelo IBGE na primeira semana de dezembro apontam crescimento econômico de 3% nos 12 meses encerrados em setembro. Isso reforça a expectativa de que a economia brasileira deva fechar 2022 com expansão também próxima a 3%, a depender do desempenho do último trimestre. A projeção do próprio Ministério da Economia é de um crescimento de 2,7% em 2022, convergindo para a projeção do FMI de 2,8% para o Brasil.

Como era esperado, a economia brasileira desacelerou o ritmo de alta, tendo em vista que o desempenho de 2021 refletiu o impulso central de retomada da atividade econômica após o período de retração mais intensa provocada pela pandemia.

As projeções para 2023 são de um desempenho mais modesto, não só no Brasil mas ao redor do globo. Segundo projeções do FMI, o crescimento da economia mundial deverá ser de 3,2% em 2022 e 2,7% em 2023, após ter apresentado salto de 6% em 2021. Isso reflete, no contexto internacional, a dificuldade de reorganização das cadeias de produção e as mudanças de estratégia tanto de políticas públicas de fomento à economia como das empresas.

Entre os fatores que chamam atenção na composição do Produto Interno Bruto brasileiro nos últimos trimestres está o nível de investimento produtivo. A denominada "formação bruta de capital fixo" indica qual parcela do PIB é direcionada à ampliação da capacidade produtiva, fundamental para o crescimento da economia nos anos subsequentes.

Em 2013 a taxa de investimento foi de 20,9% do PIB, a maior registrada nas últimas décadas, fruto dos esforços em torno do então PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A desaceleração econômica e as mudanças no cenário político dos anos seguintes desmobilizaram os esforços para ampliação dos investimentos. Em 2017, a taxa de investimento foi de apenas 14,5% do PIB, não ultrapassando 16,5% até 2020.

A considerar o desempenho observado nos três primeiros trimestres de 2022, a taxa de investimentos deverá fechar o ano próximo a 18,8% do PIB - ainda bastante distante do necessário para garantir trajetória de crescimento sustentável ao longo do tempo, mas bastante melhor que o observado nos últimos anos.

Desafios à frente

Entre diversos desafios econômicos a serem enfrentados pelo novo governo, este certamente é um dos principais quando pensamos na expectativa de médio e longo prazo para a economia brasileira. Níveis medíocres de investimento geram capacidade limitada de sustentação da expansão econômica.

Apesar do elevado nível de ociosidade presente na economia brasileira em 2020, dada a desaceleração das atividades, e em parte de 2021, parcela dos atuais fluxos de investimentos se explica pela necessidade de retomada econômica e de adaptação às mudanças ao novo contexto produtivo e de consumo.

Será possível manter este nível de investimento nos próximos anos? Será possível ampliá-lo? A crise fiscal do setor público brasileiro impõe sérias restrições, dado que os Investimentos públicos e a adoção de mecanismos de fomento exercem importante impulso ao nível de investimentos da economia.

Qual será a estratégia do novo governo para ampliar o fluxo de investimento? É importante atentar para o fato de que as maiores economias mundiais vêm adotando amplos pacotes de fomento à promoção dos fluxos de investimentos internos para estimular a atividade econômica.

Já sabemos que, sem um cenário econômico e político estável, com ordenamento jurídico seguro, esta tarefa fica muito mais complicada.

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Metodista de São Paulo