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Comércio varejista em marcha lenta
Sandro Renato Maskio
28/11/2022 | 10:47
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Qualquer breve comparação do contexto econômico brasileiro no período pré-natalino dos últimos anos faz supor que o ritmo do comércio varejista neste final de 2022 esteja mais intenso. Especialmente se observarmos que o nível de desemprego está menor. Contudo,não é o que mostra a PesquisaMensal do Comércio realizada pelo IBGE.

Após apresentar média de crescimento econômico de 0,28% no biênio 2020/2021, a expectativa é que a taxa neste ano supere 2,5%. Tal desempenho é bastante superior à média observada no triênio 2017 a 2019, de 1,4% ao ano, anterior à pandemia.

Outro indicador é a taxa de desocupação, que registrou 14,9% da força de trabalho no terceiro trimestre de 2020, com mais de 15 milhões de desocupados. No terceiro trimestre de 2022 a taxa de desocupação nacional foi de 8,7% da força de trabalho, com volume de desempregados 5,5 milhões menor do que há dois anos, segundo apurado pelo IBGE.

Especialmente pelos dois indicadores macroeconômicos apontados acima, seria de se esperar que o volume de vendas se mostrasse mais intenso neste ano. Contudo, a Pesquisa Mensal do Comércio apontaque o índice de volume de vendas do comércio varejista ampliado no trimestre encerrado em setembro de 2022 no plano nacional, comparado ao mesmo período dos anos anteriores, ficou 1,9% em relação a 2020 e 2,6% abaixo em relação a 2021. No Estado de São Paulo, as mesmas comparações revelaram desempenho de menos 4,9% e menos 2,3%, todas considerando a série dessazonalizada para o comportamento do volume de vendas.

No acumulado dos 12 meses encerrados em setembro, o desempenho no plano nacional foi de menos 1,6% e no Estado paulista, de menos 3,5%.

Sálario não acompanha

Dentre alguns elementos que podem nos ajudar a compreender este comportamento podemos listar, primeiramente, o ritmo mais lento de recuperação da renda média do trabalhador, apesar daqueda na taxa de desocupação e no número de indivíduos desocupados. Se a massa de renda se ampliou cerca de 9,9% na comparação entre os terceiros trimestres de 2022 e de 2021, o rendimento médio recebido por cada trabalhador aumentou bem menos na mesma comparação: apenas 2,5%, considerando a variação real, descontada a inflação do período.

A inflação é um segundo fator. Ao comprimir o poder de compra da renda, tem obrigado as famílias a reduzir o consumo, ou no mínimo a realizar substituições. Especialmente junto às famílias de menor renda, que constituem a proporção mais representativa da massa de consumidores no Brasil.

Embora o IPCA (Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo) registre inflação de 6,47% nos 12 meses encerrados em outubro, apenas os grupos de Transporte, Residência e Comunicação exibem inflação menor que a média do índice geral, sendo os dois primeiros diretamente impactados pela redução da alíquota do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica. O grupo Alimentação registra alta de 11,21%, Saúde e Cuidados Pessoais, 9,84% e Educação, 7,34%, para citar apenas aqueles com importante representatividade no orçamento doméstico.

Completa este quadro o elevado nível de endividamento das famílias brasileiras. Segundo dados do Banco Central do Brasil, o endividamento das famílias junto ao Sistema Financeiro Nacional é de cerca de 52,8% em relação à renda acumulada nos últimos 12 meses pelas mesmas. Se descontado o crédito habitacional, esta proporção diminui para 33,52%, ainda bastante elevado.

O grau de comprometimento da renda das famílias com pagamento de serviços da dívida é de 29,4% da renda. Completa este quadro o nível de inadimplência, que segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) atinge pouco mais de 79% das famílias. Se de um lado a taxa de desocupação está menor e o ritmo de crescimento econômico maior, de outro a renda disponível para consumo se mostra bastante comprometida pelos elementos apontados acima.

Portanto, as opções de estratégia aos varejistas envolvem trabalhar com mix de produtos e/ou formas de pagamento que sejam factíveis com seu público consumidor. Do lado dos consumidores, vale a dica de sempre, de conseguir encontrar as melhores escolhas dentro da realidade orçamentária que esteja vivendo, mesmo que esteja muito distante do sonho de consumo desejado.

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Metodista de São Paulo.




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