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A expansão das fintechs no Brasil
Ana Carolina Tosetti Davanço
14/10/2022 | 11:29
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Na 23ª Carta de Conjuntura da USCS, publiquei nota técnica sobre as fintechs (disponível em htps:/ww.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs).

Aqui registro uma síntese da nota. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, sobressai, nos últimos anos, a expansão das empresas que apresentam novas soluções financeiras para os desafios e nichos do mercado. Essas novas empresas expõem, tanto no mercado de pessoas físicas quanto no de pessoas jurídicas, soluções mais ágeis do que as ofertadas pelos grandes bancos. A estas empresas que geram serviços financeiros disruptivos, que se caracterizam por seu formato digital, modelo de negócio do tipo startup e que atuam em vários segmentos de mercado das pessoas físicas e jurídicas deu-se o nome de fintechs (contração de Financial Technology).

Diversos autores destacam os impactos das fintechs no sistema financeiro. Figo e Lewgoy afirmam: "As fintechs concorrem com os bancos e lançam produtos financeiros mais simples e baratos, pela internet. Hoje, podese ter uma conta e um cartão gratuito, tomar um empréstimo com juros menores ou investir com retornos maiores". De Paula e Macahyba apontam para os aspectos tecnológicos: "As fintechs são empresas que redesenham a área de serviços financeiros com processos baseados em novas tecnologias, como Inteligência Artificial, Computação em Nuvem e Big Data, para criar um ambiente totalmente digital e automatizado. Isto permite que tais empresas funcionem de maneira remota, sem a necessidade de agências físicas ou mesmo de operadores humanos. Uma das vantagens desta iniciativa é a maior acessibilidade por parte dos clientes promovidas pela difusão dos serviços financeiros através de smartphones, permitindo em tese maior agilidade, melhores condições e taxas vinculadas ao serviço. Ao possuírem um custo operacional consideravelmente menor face às instituições tradicionais, elas podem cobrar um valor inferior aos seus clientes pelo serviço financeiro".

No Brasil, a elevada concentração bancária, impulsionada sobretudo a partir do período hiperinflacionário e do Plano Real, em 1994, levou a que os grandes bancos viessem a se caracterizar hoje por taxas de juros, tarifas e lucros elevados, bem como por grande insatisfação de clientes. Neste contexto, uma das diretrizes do Banco Central, buscando alterar este quadro, tem sido uma maior flexibilização das regras visando o fomento às fintechs e o consequente incremento de produtos e serviços financeiros inovadores. Isto tem gerado intenso debate sobre as assimetrias regulatórias entre os grandes bancos e as fintechs.

O relatório da Distrito Fintech Report 2020 mostra que as fintechs representaram, em 2019, 35,6% do total das startups no Brasil. O acumulado de fintechs passou de 125 em 2010 para 742 em 2019. O crescimento dos investimentos envolvidos nas fintechs brasileiras é expressivo: passou de US$ 59 milhões em 2015 para US$ 910 milhões em 2019.

Quanto aos de modelos de negócios, a distribuição das fintechs no Brasil, em 2019, mostrava amplo predomínio do modelo business to business (empresa para empresa) ou B2B (55,8%). A maior parte das fintechs atende a outras empresas, especialmente as pequenas e médias. O segundo é o business to consumer (de empresa para consumidor) ou B2C (28,4%). No que se refere à distribuição do total de fintechs por tipo, as maiores concentrações de fintechs residem nas categorias de meios de pagamento (16,4%), crédito (15,8%), backoffice (15,1%), risco e compliance (9,2%), criptomoedas (6,6%) e serviços digitais (6,1%).

A distribuição das fintechs por Estado mostra uma clara concentração em SP (53,6%), seguido do RJ (7,8%) e MG (7,6%), RS (5,9%). Em termos de emprego, 88% dos postos de trabalho nas fintechs se distribuem em seis segmentos de fintechs: meios de pagamento (33%), serviços digitais (22,2%), crédito (10,7%), risco e compliance (7,7%), tecnologia (7,5%) e backoffice (6,9%).

As fintechs que atuam no Brasil começam a enfrentar a concorrência internacional de outras fintechs. É o caso, por exemplo, dos anúncios de atuação em breve no país das fintechs europeias Revolut e N26.

Ainda há muito a avançar para ampliar a diversidade dos quadros das fintechs. A Pesquisa Fintechs Deep Dive (2018) mostrou que 90% dos quadros no Brasil eram do sexo masculino; 7%, feminino; 3% não informaram o sexo. Já a pesquisa de 2020 evidenciou que 63% das fintechs pesquisadas eram formadas apenas por homens; somente 21% das fintechs tinham ao menos uma mulher; e em 16% delas o gênero não foi informado. As pesquisas mais conhecidas sobre as fintechs não trazem informações sobre a participação de pessoas LGBTQIA+, negras, moradores de periferias e portadores de deficiência.

O conteúdo desta coluna foi escrita por Ana Carolina Tosetti Davanço, economista e mestra em Administração pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano).




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