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Endividamento no País e os lucros dos bancos
Vivian Machado
22/07/2022 | 10:45
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Quanto pior o cenário econômico no Brasil, maiores estão os lucros dos bancos, que lucram cobrando taxas de juros exorbitantes e elevadas tarifas bancárias enquanto a população enfrenta dificuldades. A íntegra desse estudo se encontra na 22ª Carta de Conjuntura do Conjuscs, disponível em www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs.

Em abril de 2022, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, apontou que 77,7% das famílias tinham dívidas a vencer. O maior nível de endividamento desde o início da série histórica em 2010. Um ano antes, a proporção de endividados estava em 67,5%. A parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas dívidas (10,9%) também aumentou e foi a maior registrada desde dezembro de 2020. A inadimplência no período ficou 4,4 p.p. (pontos percentuais) acima do apurado antes da pandemia. Com pouco mais de 30% da renda comprometida com o pagamento de dívidas, a proporção de famílias com contas em atraso atingiu 28,6% do total, a maior alta desde março de 2020.

O cartão de crédito é o tipo de dívida mais procurado ­ modalidade com os maiores custos e taxas de juros do mercado. O endividamento no cartão atingiu 88,8% das famílias. Alta de 1,8 p.p. no mês e 7,9 p.p. em doze meses. A proporção de endividados no cartão destacou-se tanto entre famílias com renda de maiores que 10 salários mínimos, chegando a 91,6%, quanto entre famílias com renda mais baixa, chegando a 88,1%. A persistente da inflação tem deteriorado os orçamentos domésticos e, com juros médios de mercado quase 20 p.p. maiores em doze meses, o resultado foi a piora da inadimplência. O endividamento no primeiro quadrimestre do ano teve a maior proporção histórica, com tendência de alta.

Dados do Banco Central apontam que o endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional atingiu 52,6% da renda acumulada nos últimos 12 meses e quase 30% da renda dessas famílias está comprometida com o serviço dessa dívida. Em 2021, a procura pelo rotativo do cartão de crédito (PF) foi a maior em 10 anos, totalizando R$ 224,7 bilhões em 2021 (alta de 23%). Os juros cobrados das pessoas físicas nessas operações chegaram a 349,6% a.a. em 2021, maior patamar desde agosto de 2017. Com a maior taxa de juros do mercado de crédito no País, tais dívidas tornando-se quase impagáveis.

O Brasil vem passando por alto desemprego, queda na renda, inflação crescente e consequente perda de poder de compra da população. Por outro lado, os grandes bancos seguem lucrando cada dia mais. Em 2021, quando a pandemia atingiu seu pior nível no País, os cinco maiores bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Santander) lucraram, juntos, R$ 107,7 bilhões, com alta média de 34% no período. E, no 1º trimestre de 2022, o lucro dos cinco bancos chegou a R$ 27,6 bilhões, com alta média de 15,4% em 12 meses e rentabilidade entre 11% e 21%. Ou seja, independentemente do cenário econômico, seus lucros seguem "nas alturas".

Os ativos dos cinco bancos somados cresceram 4,5% em 12 meses e parte desse crescimento se deve às carteiras de crédito, que atingiram R$ 4,2 trilhões, com destaque, justamente, para o segmento de pessoa física e, nele, os cartões de crédito e o crédito pessoal. Mas, para se precaver da alta da inadimplência, os bancos constituem provisões para créditos de liquidação duvidosa, gerando despesas. No 1º trimestre de 2022, tais despesas cresceram 53,2%, em média, totalizando R$ 26,3 bilhões (R$ 9,1 bilhões a mais em 12 meses). Enquanto isso, a população segue em dificuldade.

Se não fossem as abusivas taxas de juros cobradas pelos bancos, a situação não estaria tão delicada, com três em cada 10 famílias com dívidas em atraso e mais de 10% delas sem condições de saná-las. Como concessões públicas que são e, atendendo ao princípio de "promover um desenvolvimento equilibrado do País e atender aos interesses da população" do artigo 192 da Constituição Federal, caberia aos bancos criar alternativas mais baratas para as famílias saírem dessa condição de endividamento elevado. No entanto, cobram os maiores juros do planeta, gerando maior dependência sobre um sistema que penaliza cada vez mais a sociedade.

Tais dados demonstram que, ainda que economia nacional passe dificuldades, os resultados dos bancos não parecem ser afetados. Ao contrário, seguem cada vez maiores, como se alimentados, justamente, pelas condições econômicas desfavoráveis. Quanto maior a dificuldade da população, maiores os resultados dos bancos no País.  




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