Uma semana antes da morte, o diplomata havia anunciado publicamente que escreveria um livro de memórias para denunciar casos de corrupção na construção da usina de Itaipu (PR), diz Lygia. No documento entregue ao MPF, ela afirma que o inquérito poderá elucidar aspectos históricos, "em especial a motivação de ocultar um escândalo de corrupção envolvendo a usina de Itaipu".
De acordo com a versão policial divulgada pelo regime militar, houve suicídio - Jobim teria se enforcado com uma corda. Lygia, que estava grávida e tinha 28 anos na época do crime, dedicou mais da metade da vida a tentar descobrir o que aconteceu com o pai.
Em 1983, a então promotora Telma Musse foi designada para cuidar do caso e pediu novas investigações à polícia. Na ocasião, ela baseou-se na "dubiedade do laudo que concluiu pelo suicídio". Dois anos depois, a morte foi qualificada como "homicídio por autor desconhecido" e o processo acabou arquivado.
Jobim começou a trabalhar como jornalista e foi diplomata de carreira até se aposentar. Pouco antes do golpe de 1964, tinha sido enviado ao Paraguai pelo então presidente João Goulart como chefe de uma missão para acertar a compra das turbinas de Itaipu. O projeto original da usina foi realizado no governo de Jango. "Itaipu custou dez vezes mais. Queremos a ajuda do MPF para esclarecer coisas que a ditadura varreu para baixo do tapete e contar a história de tudo o que existe de secreto", afirma João Vicente Goulart, filho do ex-presidente e diretor do Instituto João Goulart, que também assina o pedido de reabertura do caso. "Hoje todos estão surpresos com a investigação da Polícia Federal e a relação pouco ortodoxa das grandes empresas com obras públicas, mas isso não é de hoje. Vem da ditadura."
Lygia, que prestou depoimento à Comissão Nacional da Verdade em 2013, disse que não quer ser indenizada pela morte. "Quero um reconhecimento de responsabilidade. Quem matou meu pai foi Itaipu. Quem destruiu as provas foram agentes do Estado brasileiro, que me deve uma satisfação."
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