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Insanidade urbana

A cidade pulsa, a cidade flui e corre, e exalta e se exalta...

Por Rodolfo de Souza
23/11/2014 | 07:00
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A cidade pulsa, a cidade flui e corre, e exalta e se exalta. Ela é veloz. Ainda que às vezes pare. Aliás, quase sempre para. Isso porque há muitas pessoas com carros que a mídia anuncia, suntuosos e potentes. São cavalos e mais cavalos parados nas marginais, nas radiais e tais, por simples falta de espaço. Seria preciso que a megalópole tivesse o dobro do seu tamanho. Apesar de que, verdade seja dita, o aumento territorial não resolveria muito bem a questão, tendo em vista que, duas vezes maior, a cidade certamente comportaria uma frota dobrada de veículos, a qual se encarregaria o poder econômico de espalhar.

E a gente maluca que habita este lugar, anda sempre cheia de pressa. Estando de carro, de ônibus ou a pé, se apressa mesmo quando não tem pressa. É o costume.

O medo também obriga esse povo a correr. E ele corre de medo e de pressa.

Assim é a São Paulo que vejo pela TV todos os dias de manhã, enquanto corro para o trabalho, disputando com o relógio cada palmo de rua.

O helicóptero que passeia nos seus céus aponta quedas de motociclistas, atropelamentos, incêndios, assaltos, fugas, polícia, ambulância, bombeiro, frenesi de vida e de morte, tudo virando notícia para preencher a manhã. Nem consigo imaginar jornalista desempregado. Tampouco vendedor de caneta, já que escrever deve ser hábito salutar e corriqueiro. O povo, aliás, merece estas linhas, e à cidade também as dedico com amor, porque cidade é gente, é movimento, é ruído. E é a sirene, é a buzina, é o ronco de milhares de motores, é a gritaria de quem se impacienta, de quem quer vender, de quem se aflige com a dor, de quem comemora... É o alagamento, é a árvore tombada, é o desespero...

Mexe com os nervos pensar nos milhões de corações que batem apressados diante da urgência dos fatos que fazem outros milhões de litros de sangue correr pelas veias e escorrer em seu solo duro na violência do lugar, porque a cidade é violenta e barulhenta, e de números impressionantes, tanto no dinheiro farto quanto na miséria escarrada na cara do transeunte. Miserabilidade que faz dela controversa entidade de concreto, ferro e asfalto a bramir poderosa para o mundo sua força econômica digna de respeito. Produto interno maior do que o de muitas nações!

Há protestos, invasões, reclamações, denúncias, vozes destemidas ecoando na metrópole onde se caminha, se pedala, se corre, se pratica infinidade de exercícios para manter o físico no padrão exigido. Tudo em meio ao ar impregnado de trânsito intenso.

Agora mesmo as imagens que me vem de pronto são de longos engarrafamentos no dia que só começa. Também pudera! Cada carro que levaria com conforto cinco ou mais pessoas, normalmente carrega somente uma! Sonho bom viver numa cidade grande com transporte coletivo confortável, rápido, que o leve para qualquer canto sem tormento. Quimera permitida só nos filmes de ficção científica e no Japão.

E a cidade grande inaugura mais um dia de caos com muita naturalidade, já que tudo isso faz parte de seu cérebro insano.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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