Em conversa com jornalistas, o superintendente da FGV/Ibre esclareceu que a última vez em que havia mais empresas projetando uma piora no cenário de seis meses foi em maio de 2009. Em setembro, o indicador marcou 95,9, de 103,5 em agosto. Leituras abaixo de 100 significam que o número de empresas pessimistas superam o de empresas otimistas.
Campelo reforçou que o índice de confiança da indústria de transformação está "extremamente baixo" e que houve uma certa frustração com o ritmo de atividade neste trimestre. Ele explicou que dados como a piora do Índice de Situação Atual e do Nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) sugerem que a produção industrial de setembro não deve registrar aumento. "Se houver uma alta, vai ser muito baixa, parecido com o que aconteceu em agosto", afirmou.
O superintendente da FGV afirmou que a pesquisa conduzida com as empresas captou alguma frustração com o acúmulo de estoques. Isso está relacionado com o descompasso entre o nível de produção planejado e a demanda inferior ao esperado, disse. "Passado o período da Copa do Mundo, a indústria saiu um pouco mais otimista do que efetivamente a demanda se mostrou no terceiro trimestre, e isso provocou um espalhamento maior da percepção de que os estoques estão excessivos", disse.
Na passagem de agosto para setembro houve pouca variação no indicador de estoques excessivos, mas o índice continua a mostrar que o nível de estoques no maior nível desde 2009. Neste mês, dos 14 segmentos da indústria de transformação acompanhados pela FGV, 8 registraram alta nos estoques, três mostraram queda e outros três permaneceram estáveis. O índice marcou uma leitura de 112,7 em setembro. "O nível é alto em termos históricos, e há mais segmentos aumentando estoques que diminuindo, então ainda está bastante espalhado", acrescentou.
Para o mercado de trabalho, ele lembrou que o saldo de empregos medidos no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) está no terreno negativo há quatro meses, sendo que a última vez em que isso aconteceu foi no período de 2008/2009, quando a fase era muito ruim para a indústria. "A intensidade é menor, mas está persistindo, e continuamos sem sinais de melhora no curto prazo", afirmou. "O momento do mercado de trabalho é delicado. Pode haver uma piora ou até uma intensificação da piora."
Em meio a esse cenário, Campelo reforçou que o cenário para investimento produtivo também não é favorável. Ele explicou que, para haver uma expansão dos investimentos, o Nuci deveria indicar uma utilização elevada da capacidade somada a uma confiança de que a economia vai acelerar e uma percepção de que o investimento terá retorno positivo. "Mas nenhum desses três itens está favorável", afirmou.
No entanto, ele lembrou que a incerteza política também é um fator relevante e que, passadas as eleições, pode haver uma melhora na confiança com mais definição sobre as políticas do próximo governo. Campelo explicou que desde o segundo trimestre muitas das empresas ouvidas na pesquisa relataram uma percepção de que a margem de manobra do governo havia diminuído por conta do processo eleitoral.
Campelo disse que, para a retomada da confiança, o item mais importante a ser abordado pelo próximo governo seria garantir a estabilidade da política econômica, em vez de priorizar medidas para determinados segmentos da indústria. Isso, somado a uma potencial desvalorização cambial, seriam dois fatores potencialmente favoráveis para a indústria de transformação no próximo ano, avaliou.
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