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Um time de haitianos nos gramados de Diadema

A equipe, porém, não é de futebol, mas de operários que trabalham na obra de revitalização do Estádio Inamar

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
01/03/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


De segunda a sexta-feira, um time com um integrante a mais do que o permitido pelas regras do futebol entra em campo no Estádio José Batista Pereira Fernandes, mais conhecido como Inamar, em Diadema. Tratam-se de 12 haitianos que integram a equipe formada por 18 operários que trabalham na reforma da casa do Água Santa, clube que representa o município na Série A-2 do Campeonato Paulista. Os trabalhos começaram em outubro e vão até o fim do ano.

A turma, a exemplo de outros compatriotas, saiu do Haiti com a bagagem cheia de sonhos, em busca de oportunidades. A nação, considerada a mais pobre da América Latina, viu sua situação piorar após sofrer terremoto em janeiro de 2010 que, além da destruição, matou mais de 300 mil pessoas.

Em solo brasileiro, eis que esse grupo encontrou a chance de participar da revitalização do espaço que abriga a paixão nacional, os talentos do esporte e milhares de torcedores que vibram a cada balançar das redes.

Foi no município de Capivari, interior paulista, que a empresa Direplan Engenharia, responsável pela obra, teve o primeiro contato com os haitianos. “Temos uma obra de estádio de futebol lá e quatro haitianos chegaram na cidade, vindos do Acre. Eles tinham contato com outros que estavam em São Paulo e contratamos para Diadema”, conta Shiliney Silva Oliveira, supervisor da companhia.

O trabalho é pesado e puxado – das 7h às 17h –, mas nada tira do grupo o sorriso e a alegria contagiantes. Em meio à terra, grama e equipamentos, eles estão sempre muito bem humorados.

Maxime Lucien, 29 anos, está há dez meses no Brasil e se diz apaixonado pelo futebol. “Torço para o Corinthians”, declara. A mudança de país lhe proporcionou mais que trabalho: ele também encontrou uma companheira. “Me sinto muito bem no Brasil porque trabalho, passeio e arrumei uma linda brasileira. Quero juntar dinheiro para montar meu próprio negócio, uma loja, tipo um mercado e, se Deus quiser, levar minha namorada para o meu país”, falou, em um Português carregado de sotaque. Quase todo haitiano é bilíngue: tem como língua local o crioulo e oficialmente utiliza o francês.

Nem todos falam o nosso idioma. Fils Souis Jeune, 49, há sete meses por aqui, não consegue conversar com outro brasileiro. No entanto, isso não é obstáculo para a comunicação. “As pessoas do Brasil são muito simpáticas e sempre me ajudam”, disse, traduzido pelo amigo West Pierre, 29, que chegou em terras tupiniquins há cerca de um ano.

Com um estádio todo a sua volta, Pierre tem que conter a vontade de bater uma bolinha. “Gosto muito de jogar futebol. No sábado passado (dia 21 de fevereiro), joguei em São Bernardo e fiz quatro gols”, gabou-se o torcedor do Flamengo e, em São Paulo, “mais ou menos corintiano.”

No Haiti, o rapaz fazia seminário para se tornar padre, mas desistiu para realizar sonho maior: cursar uma faculdade. “Gosto muito de estudar, é tudo o que quero. Vou aprender totalmente a Língua Portuguesa para prestar vestibular no ano que vem para Engenharia Mecânica”, projetou ele, que já fala inglês, espanhol, francês e crioulo.

Conquistando seu objetivo, o bom filho pretende à casa retornar. “Depois de tudo, quero voltar para servir ao meu país.” 




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